domingo, 20 de novembro de 2011

Maratona - Para finalizar...

Bem, para finalizar, gostava de falar da prova em si. Se é certo que a Meia Sportzone ainda tem um número de participantes inferior e uma melhor marca superior à Meia de Lisboa, em termos de Maratonas, o Porto ultrapassou claramente Lisboa e em apenas 8 edições.
Não vou, obviamente comparar as 2 provas, porque não conheço a segunda, mas elogiar a que participei.
O percurso é quase perfeito, passa por muitas das zonas com mais interesse turístico do Porto e Gaia e o público, apesar de pouco presente no início do percurso vai aparecendo e tornando-se cada vez mais caloroso. Por fim, a organização é excelente, e durante todo o percurso de 42km não tenho mesmo nada a queixar, o que, apesar de não ter grandes razões de queixa, é raro.
A Maratona é, para mim, um exemplo para a região, e só pode crescer em termos internacionais, tem tudo para isso. Ou será que existe alguma cidade cuja paisagem que possa ficar à frente desta durante uma corrida de 42km?







quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Maratona do Porto - Os tempos

Este será um artigo mais "técnico", de análise aos tempos que fui fazendo, quilómetro após quilómetro durante a Maratona. Vou comparar igualmente os meus dados com os do meu amigo Jorge Carneiro, sendo interessante comparar duas corridas muito diferentes. Espero não tornar este artigo muito chato, vamos lá ver.
Em primeiro lugar, a minha evolução em termos de velocidade média por quilómetro (mm:ss/km)

Como se pode ver, no primeiro quilómetro andei algo devagar, sobretudo por causa dos segundos que demorei até poder começar a correr. Depois, fiz os primeiros 12km com muito controlo em termos de pulsações, mas acabei por fazer tempos algo altos (perto de 5:30 a descer e quase nos 6:00 em plano). A partir daí foi a fase mais regular, primeiro com o Paulo e depois com o resto do grupo, mantendo sempre uma passada próxima dos 5:40 por quilómetro. A maior excepção foi ao quilómetro 19, quando caí e fiz 5:53. A partir dos 27km os tempos começaram a ser bastante mais irregulares, ou seja, já não estava a controlar tão bem a passada. Fiz os 28km em 5:22 mas os 29 a 6:07. Depois, comecei a fazer bons tempos (talvez demasiado bons), como os 5:15 aos 34km (o melhor registo da prova) alternando com tempos acima dos 6 quando passava pelo abastecimento. No final fica bem patente a quebra: 5:25 aos 37, 6:09 aos 38 km (foi nesse quilómetro que estourei) e sempre acima dos 6:20 nos restantes, mas curiosamente não fui diminuido a velocidade, estabilizei logo. Comparando agora com a minha média de 5:47 ao quilómetro (peço desculpa pelo erro nas unidades mas ainda não me habituei aos gráficos do Google Docs):

Este gráfico é muito parecido com o anterior mas permite verificar que andei com tempos parciais abaixo da média enquanto descia a Boavista, na fase regular até aos 28km e depois alternadamente entre esse quilómetro e o 38. Andei acima da média no primeiro quilómetro, no quilómetro em que caí, pontualmente a partir dos 28km e em todos os 4km finais. Passemos agora para as pulsações. Como referi no post anterior, fiquei com a sensação de andar sempre um pouco acima da média prevista (após leitura de imensos sites), será que isso se confirmou? Há que referir que o meu Monitor de Frequência Cardíaca também se cansou, por isso alguns dados nos quilómetros finais são interpolados:

Parece que essa ideia que tive durante a prova só estava parcialmente correcta. Até à meia maratona andei quase sempre abaixo do previsto. Cheguei mesmo a andar a menos 9 e a menos 10 batimentos que o previsto nos quilómetros 16 e 15, respectivamente. Nos quilómetros em que ultrapassei o valor previsto, andei apenas um batimento acima. A ultrapassagem contínua dos valores previstos ocorreu a partir do quilómetro 23, chegando mesmo a atingir valores acima das 180 pulsações por minuto entre os 32 e os 36 e no quilómetro final.
E quanto aos valores obtidos durante a prova? Tive muitos picos ou andei bastante regular? Vamos comparar a minha pulsação máxima com a média em cada quilómetro:
Este aspecto estava algo dependente da orografia, pelo que os resultados são bastante irregulares. Em alguns quilómetros a pulsação média e máxima era muito semelhante mas, em alguns casos, a diferença foi de 16 bpm, 19 bpm e 27 bpm (se bem que este último caso se possa dever a problemas com o monitor). De uma forma geral, a diferença entre média e máxima ficava sempre entre os 5 e os 8 bpm, o que não será muito.
O próximo gráfico já é um devaneio: será que existe proporcionalidade entre a minha velocidade e a quantidade de vezes que o meu coração bate por minuto durante uma maratona?

Não, claro que não. Este gráfico tem um r^2 de 0,0834, por isso não há qualquer semelhança com uma progressão linear. Se calhar se eu fosse um atleta melhor, talvez isto fizesse mais sentido.
Por fim, comparando a minha corrida com a do meu amigo Jorge num gráfico normal de distância e tempo:

Por incrível que pareça, as nossas linhas curvas cruzam-se no quilómetro 29, exactamente o mesmo em que o ultrapassei. A matemática tem destas coincidências. Como disse, tivemos abordagens diferentes. Ele partiu mais depressa e foi-me ganhando tempo precisamente até meio da prova, onde atingiu uma diferença máxima de 8 minutos. A partir daí nota-se uma quebra, que vai aumentando de intensidade, sobretudo a partir dos 30 km. A minha corrida começou mais lenta mas, à excepção dos últimos quilómetros, não tive grandes variações de velocidade.
Por fim, como fomos nós evoluindo em relação ao ritmo médio para efectuar a maratona em 4 horas?

A resposta é simples. Eu andei sempre lá perto, mas nos últimos 4km acabei por vacilar e afastar-me do tempo final. Já o Jorge, começou muito bem, mas depois mergulhou de cabeça num tempo bem superior.
Conclusões
Depois desta análise consigo perceber alguns factores determinantes para a minha prova: 1. Foi uma boa opção conter o meu ritmo inicial para adiar a quebra; 2. O principal problema terá sido o ritmo após a meia-maratona, passei a andar com as pulsações mais altas para acompanhar e puxar pelo grupo e a quebra aos 38 km reflectiu isso; 3. Não estou totalmente arrependido com a táctica que usei e ainda tenho dúvidas se fiz mal em manter aquele ritmo mais rápido, se perdesse o grupo talvez ainda fosse pior; 4. Para o ano há mais, e tenho que estudar a melhor forma de mexer nesta táctica.

sábado, 12 de novembro de 2011

Maratona do Porto - A Prova

A manhã começou cedo (por volta das 6:30) e, depois de nutrido e hidratado segui com o Jorge Carneiro até à partida. Por lá ainda encontrei o Pedro Pinheiro que ia passear (mas um passeio bem mais rápido que o meu, diga-se).
Não fiz qualquer aquecimento, tinha 32 km para aquecer para depois correr mais 10 km em prova, e aproveitei os últimos minutos para me aliviar nos WCs públicos.
Comecei a prova junto ao meu amigo Jorge Carneiro. Sabia que ele ia optar por uma táctica mais ofensiva e logo depois da Casa da Música disse para seguir o seu caminho que depois o apanhava. Mantive um ritmo bastante lento, mesmo a descer, mas confortável.
Ao fim de 10km, sentia-me tão fresco como no início, mas continuava a ser ultrapassado constantemente por atletas (sobretudo da prova dos 14km). Entre eles estava mesmo alguém vermelho da cabeça aos pés. Apanhar muito sol dá nisto.



Nada que me preocupasse muito, já que iria manter as pulsações abaixo dos 80% nos próximos qilómetros.
Pouco depois, surgiu o Paulo Rocha do Triatlo dos Veteranos do Porto que estava a andar mais ou menos ao meu ritmo. Por isso, após alguns quilómetros algo sozinho, tinha chegado finalmente companhia para conversa durante a prova.


Um pouco mais à frente, no final de D. Pedro V estava o meu pai, que não só tinha vindo para aplaudir como também trazia a bicicleta para me acompanhar e tirar fotos durante quase toda a prova.
 

 Foi, por isso, uma boa fase, os quilómetros passavam bem, o cansaço não aparecia e até já começávamos a ultrapassar mais gente, incluindo o senhor de vermelho, já perto da Alfândega. Circulávamos sempre perto dos 5:40, 5:45 por km o que permitia apontar para um tempo próximo das 4 horas. O único senão eram as pulsações que estavam ligeiramente acima do previsto, mas preferia assim do que perder companhia.

 Já perto da Ponte Luiz I, foi-se formando um grupo que ia aumentando de dimensão. Andava-se à tal velocidade que apontava para um tempo final perto das 4 horas, mas as minhas pulsações continuavam entre os 80% e os 85% do máximo, o que era um pouco mais alto do que previra.
O pior aconteceu junto à ponte da Arrábida, onde ao subir um passeio para evitar o paralelo acabei por tropeçar e cair. Com essa brincadeira podia ter ficado fora da prova, mas felizmente soube cair e enrolei sobre o meu corpo, não sentindo qualquer dor. Nessa altura o meu pai não estava connosco, mas o Paulo veio prontamente ajudar-me, esquecendo-se da sua própria corrida. Ainda bem que no desporto se encontram pessoas assim!
Felizmente foi só um susto, e nem 10 segundos perdemos para o nosso grupo. Basicamente passámos da frente para a traseira do pelotão, apenas isso.
Na Afurada, dobrámos a meia maratona e eu continuava a sentir pouca fadiga. Eram excelentes sensações. Quanto ao tempo (2:01:30), batia certo com a ideia de uma primeira metade mais lenta que a segunda parte. E eu sentia-me capaz de melhorar o tempo na segunda metade, muito embora continuasse um pouco acima dos objectivos em termos de frequência cardíaca.
Cheguei a pensar descolar um pouco do grupo que já tinha uns 20 ou 30 elementos para baixar a pulsação, mas era melhor continuar. Boa companhia, bom ritmo, objectivos semelhantes e protecçãodo vento. O que é que eu podia querer mais?
E assim continuámos de regresso às Caves onde estava à nossa espera meia equipa dos Veteranos do Porto, que tinham ficado a comer bolinhos de bacalhau no cais de Gaia à espera do Paulo Rocha para depois acabar com ele a prova. Era uma boa ajuda, que criava ali uma barreira com o vento mas com um inconveniente: como estavam bem mais frescos, começaram a acelerar o ritmo.


Chegámos mesmo a destacar um pouco do grupo inicial, que também já tinha perdido elementos, mas aquele avanço não iria durar muito.


No retorno do Freixo, os veteranos e o Paulo começaram a diminuir um pouco o ritmo e o grupo anterior voltou a marcar o ritmo, e lá fui eu para a frente com eles. Mais tarde apercebi-me que o Paulo já lá não estava, ainda pensei em reduzir a velocidade e acompanhá-lo, mas ele já tinha melhor companhia, por isso decidi prosseguir.


Aos 29 km vejo o Jorge Carneiro muito lento, quase a passo e grito para ele nos acompanhar. Aguentou até aos 30km mas depois acabou por ir outra vez a passo.


Nesta altura não senti o famoso muro, mas começava a sentir algum cansaço, de quem começa a entrar no desconhecido.


Mas o ritmo imposto era bom, agora só estávamos meia dúzia no grupo mas existia um bom entendimento quanto ao ritmo. Muitas vezes impunha eu e outras vezes eram eles que puxavam por mim.


Mas o cansaço começou a apoderar-se de mim e deles. Tinham vindo em conjunto e eram todos da região de Leiria. Alguns ao chegar a Miragaia deixam-se ficar para trás mas eu sinto-me bem para seguir com os da frente. A velocidade foi a maior que tive durante a corrida, cheguei a rolar a 5:15 aos 34km e a 5:25 aos 37, mas quando surgiam os abastecimentos os nossos tempos caíam para os 6 minutos. Agora já não éramos ultrapassados por ninguém e passávamos gente atrás de gente, ganhando moral.

Chego à Cantareira e ainda não choquei com o muro. Muito cansaço, e espaço para lembrar-me de provas com 10km ou 5km de corrida para pensar "É só mais o Olímpico de Aveiro ou é só mais o Duatlo de Espinho". Tento com isso ganhar força mental para levar o ritmo até ao fim. Mas o pior estava para vir.


No Passeio Alegre começo por me refrescar na sombra das árvores, mas antes do Castelo da Foz a estrada empina um pouco e os paralelos irregulares começam a dar cabo de mim. Tento evitá-los primeiro por um lado da rua e depois pelo outro. Sinto uma volta ao estômago mas controlo o vómito e esse sentimento vai aliviando. Com isso reduzo a passada e perco o grupo. Agora estava por minha conta mas com o meu pai ao lado de bicicleta para me dar força. Tomo o último gel aos 38,5 km para não me sentir fraco e meto uma mudança mais baixa. Agora o objectivo não era acabar, porque já faltavam menos de 4 km para a meta e ninguém me tirava a maratona. As 4 horas também pareciam estar longe, por isso apenas queria acabar sem andar a passo e não seria nada fácil.

 

Com o vento de frente, a recta da Avenida do Brasil não parecia acabar, por isso decidi olhar para o Asfalto e não para o fundo. Lentamente fui correndo como podia, com o sofrimento a aumentar cada vez mais, mas continuando a ultrapassar atletas que iam sempre a passo.



Chego à rotunda e tento-me distrair com o que ia vendo à volta e sem querer pensar que ainda ia fazer mais um retorno e subir a Avenida. Só faltava mais um pouco, mas não iria a passo, tinha que conseguir.


No viaduto do edifício transparente olho para o parque da cidade e lembro-me que foi ali que comecei a treinar corrida, e seria ali também que terminaria a primeira Maratona. Exactamente no mesmo sítio, na entrada da Boavista. Ia andar paralelo a um percurso que fiz centenas de vezes com muito prazer, era só mais isso. Começava a sentir-me emocionado e o meu pai ia-me dando ainda mais força.


Quando começo a subir a Avenida lembro-me da última vez que fiz aquele percurso a pé, duas semanas antes. Estava a chover e fui a correr para o carro. Era só mais aquele sprint.

 

Doía-me tudo, mas a meta só não se via porque era na Rua do Parque. A certa altura a estrada deixa de empinar e ganho nova moral (mas nenhuma velocidade), o pior já tinha passado.


Chego à meta completamente exausto, nem sequer chego muito emocionado, apenas cansado. Sinto o apoio do público, de pessoas conhecidas, da Aurora Cunha (sempre a dar-nos força) e, claro, do meu pai. E pronto, estava feita em 4:04:57!


Não consigo correr nem mais um pouco, paro e agarro-me às grades até recuperar o fôlego. No final só tenho forças para dar um abraço ao meu pai e para me sentar. Já ninguém me tirava o título de Maratonista!

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

I Maratona do Porto (Antes da Maratona)

Sendo uma prova especial, vou dividir o relato da minha primeira Maratona em 4 posts. Neste primeiro vou falar do antes da prova, no seguinte vou falar do que senti durante, num terceiro analisarei os tempos parciais e, por fim, vou falar no pós-Maratona.

Pois bem, vou recuar a 1984 e contar tudo o que se passou desde então até à Maratona. Pronto, estava a brincar. Vou recuar a 1984 mas já volto a 2011, não se preocupem. Uma das recordações mais antigas que tenho (na altura tinha 3 anos) é esta:



Excluo, obviamente o Sportinguismo, porque na altura já sabia qual o clube de futebol que me poderia dar mais alegrias ao longo da minha vida.

Foi aqui que comecei a gostar de desporto, de todos os desportos. E o sentimento foi crescendo com o México 86, Viena 87, Seul e Tóquio 88, Itália 90, Tóquio 91,Barcelona 92 (sobretudo estes), e por aí adiante até Dublin 2011.

Apesar de ter sido algo muito importante, nunca foi propriamente um objectivo. Nunca parei para pensar se um dia a iria fazer. Já houve alturas em que achei impossível (na minha primeira meia (Lisboa 2005), por exemplo) mas com o passar do tempo passou a ser algo realizável com algum treino específico.
Este era o ano ideal para experimentar. Uma época que terminou bem e onde me adaptei finalmente ao esforço  de provas mais longas como os triatlos olímpicos. Tinha, também, mais de um mês para preparar, depois do fim da época de triatlo em Lisboa e com o cancelamento do Triatlo de Tróia.

O único senão era a ausência de Meias nesta época. Com a minha dedicação total aos triatlos, acabou por não haver oportunidade para nenhuma. De qualquer forma, já tinha feito 4 em anos anteriores, duas em Lisboa e duas no Porto, por isso não era propriamente inexperiente nessa distância.

Mas quanto à Maratona não podia dizer o mesmo. A maior distância que tinha percorrido a correr tinha mesmo sido em meias, por isso não sabia como reagiria o meu corpo a esforços maiores. Tinha, no entanto experiência de provas longas: Triatlos Olímpicos que quase duraram 3 horas e Provas de Ciclismo na época de 1999. Fiz igualmente muitos treinos de bicicleta acima das 3:30 nos últimos anos, por isso, a novidade estava mais na corrida e nos impactos do que propriamente na duração.

Fiz então um treino de 30km quinze dias antes que me deu alguma confiança para a Maratona. Tudo OK e a sensação que ainda tinha fôlego para mais 12,195 km. Foram 2:58:23 neste percurso:



E então quais seriam os objectivos? Em primeiro lugar muito respeitinho. Não era uma prova qualquer, era a Maratona. E apesar de tudo correr quase sempre bem, há histórias assustadoras, a começar pela Lenda de Fidípedes que deu origem à própria maratona. Por isso, a ordem de objectivos seria esta:
  • Acabar;
  • Acabar;
  • Acabar;
  • Acabar sem andar a passo;
  • Acabar e conseguir conduzir o carro até casa;
  • Fazer menos de 4 horas.
A semana anterior, além de ser uma semana de repouso activo foi uma semana de estudo. Para isso, consultei os maratonistas mais próximos que me deram dicas muito importantes: Mark Velhote, Miguel Paiva e Rui Pena.

Depois, também me dediquei à consulta de sites e blogues. A minha ajuda online mais preciosa foi sem dúvida o Correr Por Prazer, sobretudo no que diz respeito à preparação final e à nutrição nas últimas 72 horas. Também achei interessante o site da metodologia Marco, não para calcular tempos (demasiado ambicioso), mas para melhor gestão do ritmo cardíaco. A estratégia era começar a 75% da pulsação máxima e ir subindo gradualmente acabando a 91%.

Para finalizar, só falta o equipamento. Regra número um: Não estrear nada. Isto porque na minha primeira meia-maratona estreei uns calções comprados na véspera e acabei por ficar todo assado. Durante uma semana andei ao estilo Velho Oeste, como se tivesse andado a cavalo durante 25 horas por dia durante 84 anos.

O principal problema estava no gel. Por sugestão do Miguel Paiva decidi levar 4 embalagens, uma para cada 10km. O problema estava onde levar. Os cintos para maratonistas não me pareceram grande solução, estavam mais virados para líquidos e as vitalis oferecidas pela organização eram suficientes. Não encontrei nenhuns calções com bolsos até à véspera (comprei uns na Decathlon) e restava uma camisola com bolsos (teoricamente para ciclismo) ou o meu antigo fato de triatlo. Como as saquetas andavam aos saltos na tal camisola levei o fato de triatlo. Tinh o inconveniente da protecção entre as pernas para a bicicleta, mas era a melhor solução para levar saquetas e chave do carro sem problemas. Como estava frio, levei igualmente umas mangas de ciclismo.

Agora só faltava partir.

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

I Triatlo de Lisboa



Depois de uma pausa em termos competitivos em que aproveitei para treinar afincadamente a pensar no meu primeiro Triatlo Longo (que seria em Troia, mas que infelizmente não vai ser), chegava ao Triatlo de Lisboa com o intuito de bater o meu record pessoal. Após Aveiro, ainda fui a Abrantes com pouca motivação, e fiz a Corrida do Bodo (10 km) em Pombal, ambas numa altura que ainda estava em recuperação dos dois Triatlos Olímpicos muito intensos que tive na mesma semana.
O Triatlo começou um pouco mal, já que esperámos muito tempo para entrar no parque de transição. O parque era relativamente pequeno e tivemos que esperar que os participantes na prova lazer retirassem as suas bicicletas. Preferia ter preparado as coisas com maior tranquilidade, mas como era domingo, paciência.
O percurso era bem mais fácil que os anteriores Triatlos Olímpicos em que participei, à excepção da natação onde estaria sujeito a corrente e alguma ondulação.



 Natação (1,5 km)




Tinha treinado bastante este segmento, mas as coisas não correram muito bem. Não apanhei muita confusão e consegui impor um nível confortável preocupando-me com a técnica. No entanto, estava com um problema: os óculos. Apesar de tentar ajustá-los antes da prova, a água entrava muito rapidamente e muitas vezes tinha que abrandar ou parar para os esvaziar. E, enquanto fazia isso nadadores mais lentos iam-me alcançando. Acabei por fazer a natação toda dentro de um grupo passando da frente para a cauda sempre que tirava água dos óculos. Apesar da corrente e pouca visibilidade penso que não cometi grandes erros de orientação, mas vi muita gente claramente fora da rota correcta. Acabei por fazer 34:27, um tempo aquém das expectativas que tinha. Melhorei cerca de 10 segundos nas séries de 100m na piscina e pensei que isso se iria reflectir na prova, mas nem por isso.



1ª Transição


Já no que diz respeito à transição, estou satisfeito com a melhoria. 1:18 (contando com um percurso a pé ainda grande e com o fato para tirar) foi um tempo bem bom. Tive calma para fazer tudo pela ordem correcta e para me começar a pedalar. Pelo meio vi que o meu amigo Jorge Carneiro já tinha saído e que tinha que ir buscá-lo, continuando o duelo que temos mantido ao longo destas provas (ter que competir com alguém mesmo cá para trás, acaba por ser moralizador).

Ciclismo (40 km)


O ciclismo começou um pouco lento. Demorei a colocar os pés dentro dos sapatos e fui ultrapassado por um ciclista do Alhandra e alcançado por outro. Este último era bastante forte e acabei por aproveitar a boleia e criamos um grupo de três. Como eram da mesma equipa, deixei-os fazer o trabalho inicial, mas após o retorno também fui para a frente e o primeiro acabou por descolar. Voltamos a ficar dois, sendo que ele trabalhava um pouco mais do que eu, confesso.
Durante toda a prova soprou um vento muito forte, com algumas variações de intensidade. O vento era lateral, na maior parte do percurso, mas em algumas zonas batia forte de frente ou empurrava-nos pelas costas. Em termos de vento era um percurso engraçado, pois tanto ficávamos parados praticamente como atingíamos grandes velocidades.
Na segunda volta fomos apanhados por um grupo maior e tentámos seguir na roda. Eu acabei por ceder antes do ciclista do Alhandra, já quase no retorno e acabei por ficar sozinho. Entretanto segui com um novo grupo, apanhamos o meu companheiro anterior e depois foi ele a descolar. Num dos retornos acabei por perder o contacto e a partir daí fiz grande parte do percurso sozinho. Com isso a média baixou um pouco, dos 34 km/h para os 33 km/h. Nas zonas em que o vento batia de frente descia até aos 27 km/h e quando estava a favor chegava a andar a 38 km/h.


Após o retorno da penúltima volta fui apanhado por um ciclista do Sporting ou do Golegã (Não consegui perceber) que mesmo sozinho voava bem perto dos 40 km/h. Segui na roda, sem forças para ajudar e chegámos a ultrapassar um grupo sozinhos, sem que ninguém conseguisse colar. No entanto, para meu mal, estava a levar uma volta de avanço, e aquela companhia acabou no final da volta. Com isso, fiquei extremamente perto do Jorge Carneiro. Mesmo sozinho, consigo recuperar rapidamente os 30 segundos que me separam dele e lanço um ataque sem que ele apercebesse (nunca me tinha sentido tanto um ciclista a sério como neste ataque) e não deixo que ele apanhe a minha roda. Sabia que era mais forte do que eu na corrida e que não ia ser grande ajuda no ciclismo, por isso tinha que atacar ali.
O problema foi que no retorno seguinte vi que tinha sido alcançado por um grupo e que pouco depois eu seria o próximo. Não insisti no caminho a solo e fui esperando que eles chegassem. Acabaram por ser só dois ciclistas (um dos quais o meu primeiro companheiro do Alhandra) até que o Jorge fez um forcing para encostar, e assim passámos a ser quatro.
Estavamos a rolar a uma boa velocidade até que furo o pneu, praticamente a 3 km da transição. A estrada era péssima, cheia de irregularidades de piso e buracos e além de mim, muita gente furou. Também notei que perdia algum controlo na bicicleta e que não podia andar muito depressa. Acabei por descolar e fazer o regresso do percurso a 20 km/h. Fui sendo ultrapassado e ainda parei para ver se estava mais alguma coisa mal com a roda já que andava constantemente a derrapar.
Devo ter perdido uns 3 minutos com a brincadeira, mas mesmo assim 1:16:14 não é um tempo muito mau, correspondendo a 31,5 km/h de média.

2ª Transição
Esta foi um pouco lenta. A bicicleta arrastava-se (vi que o pneu se tinha soltado, inclusivamente) e aproveitei para beber bastante a pensar na corrida. 1:11 na segunda transição é um pouco alto, mas também nada que me envergonhe.

Corrida (10 km)


Desde o início senti-me bastante à vontade, talvez porque os últimos quilómetros de bicicleta tenham sido feitos a passear. Ao início estava um bocado longe do meu melhor tempo, mas fui ganhando confiança. Na primeira volta senti os músculos da coxa no limiar da cãibra, mas com o tempo e com a água que deitei por cima começaram a desaparecer.
Fui olhando para o relógio e tentando fazer voltas de 12 minutos, que permitiriam fazer um tempo próximo do meu record. E assim foi, mantive um ritmo contínuo, a dar o que podia e no último quilómetro consegui impor um ritmo mais forte para acabar em 47:21, o meu melhor tempo em 10 km de corrida num triatlo.

Conclusão


Acabei a prova em 2:40:34, menos um minuto que em Pontevedra e com um furo incluído. Uma boa prova, num excelente local para a prática do triatlo à excepção do piso no ciclismo. Tenho pena é de duas coisas que não são tão normais no triatlo cá em Portugal e que merecem os seguintes reparos.
Público: Nunca vi um público tão indisciplinado. Ninguém batia palmas além dos familiares e amigos. Tudo bem, não eram obrigados, mas andar no meio da corrida sem olhar é uma falta de respeito para quem está ali a correr. Fartei-me de gritar e por pouco não ia contra algumas pessoas. Havia muito espaço para passear, porque tinham que ocupar a nossa corrida?
Banhos: Até esta prova sempre pude tomar banho no final. É algo que dá jeito para atletas como nós que vimos do norte e que não gostamos de conduzir 300 km suados e com restos de sal e resíduos do Rio Tejo no corpo e na roupa. Já tomei banhos de água fria, já tomei banhos em instalações que não eram as oficiais e sempre foram simpáticos permitindo algo tão simples e tão humano. Desta vez, não. Só bastante depois da prova soubemos que o banho seria nas instalações de uma equipa conhecida por se manter na primeira divisão por decisões da secretaria. Chegámos lá e ninguém sabia. Na piscina diziam que era no pavilhão, no pavilhão diziam que era no campo de treinos. O campo de treinos estava fechado. Dpeois alguém disse que era no balneário dos árbitros de futebol e, ao fim de uma hora nada. Até que o Jorge se lembrou de pedir à equipa do Modicus, que ia jogar futsal no pavilhão, para usar o seu balneário enquanto jogavam. E, a solidariedade nortenha veio logo ao de cima: Podem tomar à vontade. Logo aí se viu a diferença entre os dois clubes.
Só que, o segurança do pavilhão disse logo que não podíamos, e que ali não entrávamos. Pelo meio de alguma discussão, o homem lá foi falar com um superior que nos abriu finalmente um balneário extra que existia do outro lado do pavilhão e pudemos tomar banho ao fim de quase duas horas. Sinceramente não percebo este tratamento de um clube que se diz grande e que se comprometeu a ceder instalações para os triatletas tomarem banho. É que nem todos são de Lisboa e podem ir a casa tomar banho. Uma situação a rever.

PS: Um obrigado à Leonor pelas excelentes fotos que tirou.

segunda-feira, 4 de julho de 2011

V Triatlo de Aveiro

Quando confirmaram a minha presença em Pontevedra, coloquei este triatlo de parte. Dois triatlos olímpicos numa semana era demasiado e, por outro lado, tinha más recordações do ano anterior. Água nojenta (eufemismo) e um percurso de bicicleta cheio de retornos, subidas, descidas e vento.
No entanto, após a jornada épica de Pontevedra fiquei cheio de vontade de estender um pouco mais o meu pico de forma. Seria muito difícil melhorar o tempo da prova anterior, mas seria um bom teste à minha resistência e uma forma de me vingar do ano anterior. Além disso, comecei a sentir bastante prazer a fazer esta distância.


O ano passado foi bastante duro, como atesta a crónica, e os tempos foram os seguintes:
Natação: 32:46
Ciclismo: 1:26:27
Atletismo: 52:54
Total: 2:55:09

Vamos lá ver como foi este ano, Tinha experiência na distância mas o desgaste de uma prova igual uma semana antes podia ter consequências inimagináveis.

Natação (1.500m)
Uma vez mais a qualidade da água deixou a desejar. O lodo levantou e com ele o mau cheiro, o moliço e outras coisas mais. A Leonor chegou a ver um peixe morto a boiar, não sei se resultado da má qualidade da água ou de uma sardinhada de S. João. A Federação bem evitou que os nadadores aquecessem junto à partida, pois já sabia o que ali havia, mas mesmo assim cheirava muito mal. É um pouco frustrante que no melhor local para se nadar num triatlo em Portugal a água esteja assim. É um cenário espectacular e, caso a largura dos canais esteja dentro dos parâmetros, daria uma excelente prova internacional. Só me dava vontade de fechar o canal algures, retirar a água e o lodo todo e depois voltar a enchê-lo com água limpa. Era mais barato e mais útil que a terceira auto-estrada Porto - Lisboa.
Mas adiante... Senti-me bem na natação, lancei-me para a frente, sem levar porrada mas apanhando bastante trânsito. Decidi chegar-me para a direita de modo a poder ultrapassar mais nadadores e consegui. No entanto a água teimava a entrar-me nos óculos e com a salitre (e sabe-se lá mais o quê) comecei a sentir-me bastante desconfortável. Esvaziando algumas vezes as lentes e perdendo algum tempo, acabei por cruzar a bóia de retorno com cerca de 15 minutos, o que não era nada mau, apesar de tudo.




 

No regresso, apanhei um grande grupo, numa velocidade continua e ocupando o canal a quase toda a largura. Tornava-se difícil ultrapassar. No meio do grupo existia um nadador que fez quase todo o percurso em bruços e, dada a forma de bater as pernas neste estilo tornava-se dificil ultrapassá-lo sem levar umas patadas. E foi aí que levei mais porrada. De qualquer forma parabéns, porque mesmo em bruços não nadava muito mais devagar que eu em crol.


Por fim, saio da água com 33 minutos, o que revela uma velocidade inferior ao primeiro terço, reflectindo o andamento do grupo em que estava. De qualquer forma foi um tempo semelhante ao do ano anterior, e correu bem melhor que todos os segmentos de natação neste ano, à excepção de Pontevedra, onde fiz 29 com fato mas perdi três minutos na transição. Nesta prova, a transição, e como não tinha fato, foi rapidíssima, para mim. Talvez a mais rápida até hoje, senti-me bastante orgulhoso com os 57 segundos.


Ciclismo  (40,8 km)
O ano passado fiquei surpreendido com a dureza e a sinuosidade do percurso. Este ano estava avisado e iria dar o possível para não me deixar abater como o ano passado. E desde o início senti-me bem. Não encontrei grandes grupos já que o elástico quebrava muitas vezes nas subidas e nas curvas, tanto para a frente como para trás. Tentei não sair muito, dentro do possível, do meu patamar confortável e volta após volta conseguia manter a média acima dos 31 km/h. Sabia que tinha o Jorge Carneiro atrás de mim e ia controlando a vantagem, vendo-a crescer nas últimas voltas. No final sentia-me um pouco desgastado mas muito longe do estouro do ano anterior. E com um tempo muito bom, atendendo ao meu nível: 1:17:03, a melhor marca em ciclismo num triatlo olímpico (menos um minuto do que Pontevedra e menos 9:20 (!) que no ano anterior). Uma média de 31,7 km/h, que revela enormes progressos neste sector.

 A transição foi um pouco mais lenta, por culpa das meias. Não quis arriscar ficar com bolhas nos pés, apesar destas sapatilhas nunca me terem deixado ficar mal. 1:15 não é mau de todo, e tirei mais um minuto ao tempo de Pontevedra. Tudo somado, acabei por sair do Parque de Transição com um tempo ligeiramente melhor do que Pontevedra, pelo que se fizesse uma corrida semelhante o recorde podia ser batido. Quanto à melhoria em relação ao ano anterior estava quase garantida. Bastava fazer os 10 km finais em menos de uma hora. Também saí com alguma vantagem em relação ao Jorge, mas sabia que se ele não estourasse na corrida passaria por mim mais cedo ou mais tarde.


 Corrida (10 km)
Senti-me bem no início e consegui impor um bom ritmo e passar alguns corredores enquanto era dobrado por outros. A primeira volta foi feita sem sofrimento e na segunda também me senti bem. O recorde da semana anterior poderia estar perto de ser batido. No entanto, nas duas últimas voltas (eram quatro), comecei a sentir bastante o desgaste. Fui sentindo as pernas cada vez mais presas. No final da terceira volta fui passado pelo Jorge e na altura desmoralizei um pouco. Fui com o meu ritmo a descer e a ser ultrapassado por mais atletas. Não dava para mais. Não foi fraqueza, alimentei-me bem, era apenas o sinal de cansaço no final de duas provas desgastantes. Comecei a perceber que o recorde começava a ficar longe mas ia ser na mesma uma excelente prova. Acabei o ciclismo com 51:23, mais dois minutos que Pontevedra e menos um minuto que no ano passado.


Resultado Final
O recorde não foi batido e, embora no final do ciclismo tenha acreditado ser possível, não era algo que pensasse à partida. Fui para esta prova divertir-me e tirar as teimas relativamente ao ano anterior. Fiz 2:43:49, apenas mais 1:17 que Pontevedra. Há uma semana o meu melhor tempo era 2:50:52 (Setúbal) e há um ano tinha feito 2:55:09, ou seja, mais 11:20. Mesmo este ano, em Montemor, fiz 2:58:21. Sinto que subi um degrau, passei claramente de tempos acima das 2h:50m para tempos abaixo das 2h45m. Agora resta continuar a treinar para passar à casa das 2h30m.
Uma palavra especial para a Leonor que me deu imensa força na natação, acompanhando-me durante todo o percurso e tirando todas estas fantásticas fotos.

Resultados aqui.

quinta-feira, 30 de junho de 2011

Triatlo de Pontevedra - Campeonato Europeu

Este blogue não tem sido actualizado nos últimos tempos, por razões que irei expor num post próximo. Mas, depois da prova de domingo (Europeu de Triatlo) vou voltar aqui ao estaminé, que já tinha saudades.