quarta-feira, 9 de maio de 2012

Lisboa International Triathlon (3ª Parte)


Ciclismo



Sabia, de tudo o que li e do que me disseram, que neste segmento teria que ter alguma calma. Se puxasse demasiado iria pagar na corrida, por isso, mais do que pensar na média de 30km/h, pensei nas pulsações. Apontar para um valor entre 70% e 80% e evitar passar os 85%. Claro que as percentagens são um pouco relativas, já que nunca fiz nenhum exame para ver qual a minha frequência cardíaca máxima, e ela situa-se um pouco acima da fórmula 220-idade. Por isso, apontei para algo entre os 140bpm e os 160bpm, já que nessa zona me sinto confortável e claramente abaixo do limiar anaeróbio.
Esse valor permitia-me rolar acima dos 30km/h nas zonas planas. No entanto, o percurso não era propriamente plano, com algum sobe e desce e uma subida junto ao retorno algo dura. Em muitas zonas sentia-se vento lateral e, no regresso ele apresentava-se de frente. Não era, por isso, um percurso propício a manter a mesma cadência, mas também assim tem mais piada, e exige muito mais o uso da cabeça (mas não da mesma forma que usei com o Vasco).
Logo ao início fui apanhado pelo Jorge Carneiro. É certo que gostamos de competir um com o outro, mas ali a coisa era diferença e companhia para o resto da prova era muito melhor do que pedalar sozinho. Andamos algum tempo lado a lado, cumprindo as regras, e fizemos a primeira subida juntos. Confesso que fiquei algo surpreendido e, embora tenha feito essa subida na pedaleira grande, percebi que nas outras voltas teria que ir com mais calma e levantar um pouco o pé (no sentido figurado, porque levantar e baixar pés foi o que mais fiz naqueles 90km). Foi o único local onde subi até aos 180bpm.
No regresso desci sem medos (era um auto-estrada) e nas zonas mais planas o Jorge começava a ficar para trás, ainda tentei puxar por ele, mas quis seguir no seu ritmo e fez bem. Mesmo com a subida, a média mantinha-se algo acima dos 30 km/h, mas a maior surpresa surgiu no retorno. Para uma média de 30km/h devia passar aos 45 minutos, mas passei aos 42:30, ou seja, a ganhar 2:30. Não sei o que estará correcto, mas no final de cada volta o meu GPS marcava menos um quilómetro do que o suposto, pelo que a distância final marcada foi de 86,51 km e não os 90km prometidos.
Quando me cruzo pelo Jorge já tinha ganho uns bons 2 minutos e percebo que vou ter alguns companheiros de circunstância. Nunca se formou nenhum grupo, nem ninguém andou na roda, mas lá à frente via ciclistas que ganhavam ou perdiam tempo em função da dificuldade do percurso.
Volta e meia era ultrapassado pelos Ferraris que pontuavam este segmento. É certo que a minha bicicleta comprada ao Boavista com quadro em carbono e sistemas Dura Ace não é má de todo, mas quando era passado por aviões de contra-relógio percebi que nestas provas o dinheiro pode fazer alguma diferença.
Quanto à alimentação, não tinha grandes objetivos, ia decidir na hora o que melhor fazer, já que não há grande literatura na net sobre nutrição em triatlos com estas distâncias. Levava três embalagens de gel na bicicleta e tinha deixado outras três na transição. Prefiro o gel às barras, já que não tenho que mastigar e os que uso têm um sabor que me agrada (embora não tenha testado muitos).

Então, a opção foi a seguinte:

1º Gel: Primeira volta após a subida
2º Gel: Terceira volta antes da subida
3º Gel: Quarta volta antes da subida

Confesso que tive alguns sintomas de fome na segunda volta, mas geri bem o esforço para ter gel nos momentos mais preciosos (não quebrar no final do ciclismo). Nessa altura optei pela bebida energética que levava no bidão. Quanto às bebidas, levei dois bidões, um com água e outro com bebida energética e chegaram perfeitamente, não precisando de utilizar o abastecimento da organização.
Não quis exagerar no gel pois, segundo o que está escrito no rótulo, só aconselhavam a tomar 4 por dia, e não iria gastar todos no ciclismo, portanto três chegaram para ter um pouco de fome em certas alturas (talvez devesse reforçar o pequeno-almoço) mas nunca aquela sensação de fraqueza.
Com o passar dos quilómetros e com as subidas a moerem-me um pouco, fui diminuindo o ritmo, mantendo a pulsação. Conseguia andar mais depressa mas o pensamento estava na corrida e não queria desgastar-me demasiado.
No entanto, na última volta, uma fita autocolante ficou presa no quadro a bater na roda e fazendo algum barulho. Nessa altura abrandei e demorei alguns minutos a perceber o que era. Quando percebi, decidi que deveria parar no cimo da subida para retirá-la sem perder ritmo, só que, logo depois, uma nova fita autocolante prende-se, desta vez na roda da frente e tive mesmo que parar ali, na base da subida para me ver livre dos objetos estranhos. Foi algum tempo perdido (cerca de 50 segundos) e, sobretudo, o terminar abrupto de um ritmo que vinha mantendo desde o último retorno.
Os últimos troços de 5km já foram abaixo dos 30km/h e a média total no GPS ficou-se pelos 29,5 km/h, para os tais 86,5 km. O tempo final foi 2:55:52, bem abaixo das três horas, mas a classificação (262º) revela que este foi o meu pior segmento.



2ª Transição

A 2ª Transição já foi mais rápida, mas sem perder o espírito. Nada de muitas acelerações e tempo para baixar os batimentos cardíacos. Ainda pude beber um pouco de água, tomar um gel e seguir para a prova. Desta vez, com meias calçadas.

4 comentários:

Claro Escuro disse...

Belas 'reportagens' Miguel! São óptimas luzes para os triatletas de sofá, como eu :-) Diz-me uma coisa, como é que planeias aquelas actividades da mãe natureza que vêm sempre na pior altura. O número 1 já me aconteceu numa meia-maratona mas foi facil de tratar dele. E o temido number 2? a comer tanto gel mais o peq almoço no minimo 5 horas antes? Ha maneiras de programar isso? Uma abraço e mais uma vez parabéns! Henrique (Alves)

MT disse...

Boas. Quanto ao número 1, foi um pouco difícil nas útlimas voltas da meia-maratona, mas senti que a coisa estava controlada até ao final da prova. O número 2 nunca andou perto, tentei esvaziar os intestinos antes de adormecer para depois aguentar bem a manhã.

Bluewater68 disse...

Miguel, eu olhei com atenção para a foto, mas mesmo assim não consegui perceber: a tua bicicleta tinha aquelas 'aerobar'? Não é peça quase fundamental para fazer grandes distâncias com maior conforto?
Outra questão. Em muitas fotos que vi, notava-se que haviam grupos. Ora, eu tinha a ideia que nessas provas, o segmento de ciclismo seria muito solitário, pelo facto de não se pdoer andar na roda e ser necessário criar uma 'caixa' em relação ao corredor da frente. É esse conceito de 'caixa' a que te referes aqui «Andamos algum tempo lado a lado, cumprindo as regras»? Ou seja, podia-se ir lado a lado, desde que se deixasse uma determinada distância para o corredor do lado, certo?
Deixa, aqueles Ferraris com rodas tapadas, também devem ter enormes probelmas de equilíbrio com vento forte :)
«já que não há grande literatura na net sobre nutrição em triatlos com estas distâncias» pois fica aqui a ideia para um post dedicado a esta matéria. Sou capaz de fazer esse desafio a outros bloguistas que já fizeram essa distância.
Cada caso é um caso e tu próprio dizes que não gostas de mastigar. Mas para essa distência, para evitar a sensação de fome, teria sido bom mastigar umas barras. Bem a propósito. Deixo-te aqui um link de um post que li ontem, sobre como fazer bolos energéticos. Achei um artigo muito bom e uma excelente sugestão para provas longas: Bolo Desportivo. Se para o ano eu for aí, até figos secos eu levo para mastigar :)

MT disse...

Não, a minha bicicleta era uma normalíssima, nem extensores tenho.
No ciclismo, como a prova tem muitos participantes, andava sempre alguém por perto, daí parecerem grupos (sobretudo nas curvas junto ao retorno).
Ao longo do ciclismo não vi ninguém a seguir sempre na roda e realmente falei nessa caixa, quando rodamos lado a lado dávamos espaço de alguns metros para o lado. Mesmo assim acabou por durar pouco tempo essa condição.
Mastigar... Perdi a fome sem mastigar, por isso não há crise para mim em só usar gel.
Gostei dessa ideia do bolo, vou experimentar!